A relativização do amor

domingo, 29 de abril de 2012 Postado por Lindiberg de Oliveira

É bem verdade que vivemos em um tempo em que as relações estão a cada dia mais descartáveis. Nós somos partes de uma geração cuja presença, e cujo interior, e em cujo meio os absolutos inexistem. Tudo é relativo. Vivemos em um tempo de profunda relativização. Por isso, as relações e quase tudo que a gente faz se tornam descartáveis: os seres humanos não são mais o próximo a ser amando, e sim o próximo a ser usado.
Os seres humanos não se amam, e essa é a marca da iniquidade (Mt 24.12). A injustiça, a maldade e a tirania se multiplicam com tanta intensidade[1] que é romanticamente inevitável que o amor não se congele. São duas vias que seguem a mesma direção: iniquidade de um lado e esfriamento do amor de outro.
Quem não ama usa. É por isso que nesse quadro as relações terminam com tanta facilidade. O amor está em tudo e ao mesmo tempo em lugar nenhum. Cantamos sobre o amor, escrevemos, lemos, pregamos, mas de fato não o vivemos; não amamos.
Além de relativizados, nossos relacionamentos foram tomados de um espirito totalmente consumista. O mesmo verbo “comer” é usado tanto pra um quanto pra outro. Do mesmo modo que como uma pizza e jogo as bordas fora, também “comemos” o nosso próximo (da maneira mais pejorativa possível) e descartamos o resto. Usamos e depois descartamos, tanto gente quanto objetos. Quem não ama usa.
Não nos espantamos com a iniquidade. Mães abandonam seus filhos, mendigos são queimados nas ruas, filhos assassinam suas mães, casamentos são desfeitos aos montes a cada dia pelos mais variados motivos, e a lista parece não terminar. Vivemos em um mundo doente, e sinceramente não sei por onde começar a mudar essa brincadeira.
O amor é a verdadeira revolução. Mas, como usar essa ferramenta tão relativizada e ao mesmo tempo tão desgastada? Chegará o tempo em que aqueles que amam de verdade não se dobrarão a esse discurso, não usarão mais essa palavra, não se renderão à tentação de usar essa homilia politicamente correta e hipócrita. Chegarão dias em que falar de amor será considerado insanidade, e praticá-lo, uma fantasia.

2012 Lindiberg de Oliveira


[1] E isso chega a ser muito contraditório. Os evangélicos brasileiros todos os dias se gloriam pelo crescimento institucional. Ou seja, os evangélicos aumentam, mas também aumenta a corrupção, a injustiça, a maldade, o pecado, etc. Algo a se ponderar.

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