Disconect facebook

segunda-feira, 10 de outubro de 2011 Postado por Lindiberg de Oliveira

Eis o paradoxo do facebook: é uma ferramenta que nos aproxima e nos afasta ao mesmo tempo; nos insere numa comunidade, num oásis do ciberespaço ao mesmo tempo que nos isola de relacionamentos reais; se tornou um lugar, embora não passe de uma rede incorpórea de zeros e uns; se tornou um abrigo para as fugas das angústias imediatas da existência ao passo que esse abrigo criou aflições bem mais agudas.
Se por um lado a vida real nos derruba e acanha, por outro, as redes sociais nos infantiliza. Abraçamos a rede para criar um mundinho onde pode-se excluir, bloquear, xingar, fazer biquinho, ser feliz todo tempo, discordar, concordar, menos viver de fato.
A revolução da internet está em que (mas não aqui), você pode possuir toda companhia que quiser e ainda assim preservar aquela vidinha vazia, sem sentido e solitária, se alimentando apenas clicadas. As redes sociais parecer assimilar tudo o que existe, o modo como nos comunicamos ou como recorremos às informações, o jeito como nos relacionamos; novos mundos são criados todos os dias em sincronia com fabricações de novas esperanças. Não por acaso a rede tem sido alvo de pesquisas e noticias no mundo todo. A tendência sugere que a web está sendo o principal concorrente a outros tipos de atividades de lazer.
Esta geração está se contornando para um novo tipo de relação, uma relação com o próprio conector de relações. A conexão não é o problema, o problema é levar o conector à sério demais. Os dispositivos se tornaram tão mais importante que já não é mais possível escolher os tipos de relações que queremos ter. Somos assimilados pelos conectores e são eles que determinam nossas ações. A ficção científica se tornou real.
O vídeo acima representa isso da forma mais básica: estamos nos comportando diante da vida de forma passiva, inativa e apática. A cada dia que passa somos tentados a trocar nossas atividades e relacionamentos reais por “clicadas”[1], condicionada por uma série de atitudes muitas vezes não recíprocas e cada vez mais superficiais e rasas, desencadeadas por meras imagens.
Daniel Oudshoorn, explica essa superficialidade ignorada nas redes sociais — e de quebra esclarece o porquê sou ignorado no facebook:
Outro dia uma velha amiga – que já foi minha companheira de quarto e colega de trabalho, e uma das poucas mulheres do mundo com as quais eu concordaria em caminhar pelos becos da porção leste do centro de Vancouver à uma da manhã – veio me visitar e descobriu que tenho uma “secreta” e minúscula conta no Facebook. Ela ficou chocadíssima que eu não a tivesse “adicionado como amiga”, e concluiu que isso quer dizer que não somos amigos “de verdade” – apesar do fato de fazermos coisas como sair juntos e conversar sobre praticamente tudo, de nossas vidas sexuais a nossos conflitos mais íntimos. Já livramos um ao outro de enrascadas mais de uma vez (incluindo duas ocasiões em que havia gente com risco iminente de morrer), mas o que realmente importava pra ela é que não éramos “amigos” no Facebook – isto é, uma comunidade virtual em que imagens institucionais de pessoas se relacionam com imagens institucionais de outras pessoas (isto é, Second Life com outro nome).
O que Oudshoorn simpaticamente diz aqui, é que, o que eu (e, portanto, ele também) chamo de amigo, não tem muito a ver com o que algumas pessoas chamam de “amigo” nessa esfera da rede social. Amigo se tornou uma homonímia em que usamos a mesma palavra mas com sentidos diferentes.
Parece que não há muita coisa a se fazer para reverter isso. Então só nos resta esperar o próximo sítio cibernético que produzirá a intensificação da futilização humana.
©2011 Lindiberg de Oliveira


[1] Sobre isso, J. R. R. Tolkien em 1955 disse numa entrevista inusitada: “Eu não clico, não sou uma máquina. E, caso clicasse, não teria opinião formada a respeito. Você teria de me perguntar ao que me daria corda”. Clicar era uma gíria da língua inglesa na época para “motivar, tocar intensamente”.

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